sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O Ifá no Brasil.


Na tentativa de contribuir para diminuir as dúvidas das pessoas que pretendem se iniciar em ifá e das pessoas leigas que gostam do culto de Orunmila, nos propomos mais uma vez a escrever sobre esse tema, respeitando as diferenças do culto em cada família, mas divulgando os procedimentos dentro do seguimento que professamos.

Isefa.

Para algumas famílias o isefa não é uma iniciação, em nossa família consideramos o Itefa uma iniciação completa e o isefa uma pré-iniciação, em nossa família toda a pessoa submetida a um isefa recebe um nome, além das orientações do odu do ritual, se essa pessoa recebe uma indicação de ifá que deve se tornar um babalawo, o ifá é alimentado mais uma vez, em um novo ritual, que não acontece no mesmo dia, e um opele é consagrado para o inicio dos estudos.

Em algumas famílias a pessoa submetida em um isefa é chamada Omo ifá, e uma submetida ao itefa são conhecidas como awo ifá.
Em nossa família consideramos esses dois nomes e usamos a denominação awo kekere, (pequeno segredo), ou awo kekere, para as pessoas com indicação do inicio a preparação para itefa.

O awo kekere, é uma pessoa que normalmente tem o seu Exu arrumado com o odu do isefa ou com um odu indicado por ifá, na segunda cerimonia quando é consagrado o opele de estudo.

O awo kekere pode receber esse opele que muitas vezes é confeccionado com pedaços pequenos de cabaças, semelhante ao que é feito no ifá cubano, com pedaços de coco, ou com um opele padrão, com favas de opele legitimas, a diferença na consagração do opele, para estudo é o porte do sacrifício por razões obvias não vou mencionar como é feito, mas existem inúmeras formas de consagrar um opele, uma pessoa que passa pelo itefa, mesmo tendo odu de babalawo, não tem o seu opele consagrado para atender clientes, a consagração do opele em alguns casos no itefa, é muito simplificada consistindo em que o opele come dentro da vasilha de Orunmila, já para consagrar o opele que vai consultar para clientes a consagração, é fora da vasilha de Orunmila e não necessitam que Orunmila seja alimentado, os rituais para esse caso, estão muito ligados a o culto de Exu.

Itefa.

Uma pessoa submetida a um itefa pode continuar se incorporando com caboclo, esu, preto velho, e seu orisá, se não for um babalawo, essas pessoas que tem cargo de babalorisas ou tem caminho de oloorisa, passam por quase todos os rituais, que um babalawo passa a diferença esta ligada ao culto de Iya odu e Osun (antepassado).

O culto de Osun (antepassado) tem rituais específicos para pessoas que passam por uma iniciação e rituais completamente diferentes para a pessoa que vai iniciar outras pessoas.

As pessoas, iniciadas para se tornarem babalawos começam os seus estudos, não no momento que fazem o itefa, começam seus estudos quando na pré-iniciação (isefa), recebem uma orientação de Orunmila que tem caminho de babalawo.

As pessoas pertencentes ao ifá Cubano, assim como as pessoas acolhidas em nossa família, que por alguma razão, se afastaram da sua família do ifá Nigeriano recebem um tratamento totalmente diferente, condicionado a uma forte demonstração de conhecimento ou baseado em uma orientação determinante de ifá, só assim pode ser considerado o tempo de estudos para uma futura liberação para um atendimento de clientes.

O primeiro caso, diz respeito a um conhecimento não dos versos da família a qual a pessoa fazia parte, mas sim de um conhecimento universal, de tudo que envolve ifá.

Se Orunmila disser que devemos aproveitar os ikins da pessoa que foi iniciado no ifá Cubano, assim o faremos, pois para nós ifá é universal, mesmo tento conhecimento que os ikins usados nas iniciações da tradição do ifá Nigeriano sejam completamente diferentes das sementes de dendê usadas em Cuba.

O mais importante nesses casos é levar em consideração que o iniciado no ifá Cubano, recebe já na sua primeira mão de ifá, o assentamento de Osun (antepassados) e Exu, diferente do isefa tradicional.

Se for aceito o assentamento de ifá, também vai ser aceito o assentamento de Osun (antepassados) e o de Exu, existem alguns casos, no ifá Cubano que a pessoa tem um opele de casca de coco, se ela passar para o ifá Nigeriano esse opele, só poderá ser usado, como um adorno, o sacerdote em sua nova caminhada deve consultar para os seus clientes com o opele tradicional.

Já o assentamento de Osun (antepassado), pode ser mantido em paralelo, assim como o Exu e o ifá, dispensando uma nova iniciação, considerando que não se pode iniciar uma pessoa duas vezes, isso seria um desrespeito com suas raízes anteriores.

Duração das cerimonias.

Um isefa leva até três dias para conclusão da cerimonia, já um itefa leva de três a dezessete dias, a conclusão das cerimonias, isso não quer dizer que não possa seguir outras indicações como é bem comum, sete dias.

Sempre a orientação de Orunmila no ifá, é que vai ser seguida.

A mudança de família.

Um babalawo na Nigéria dentro do culto tradicional nunca muda de família, se ele se desgostar ou houver algum desentendimento com seus iniciadores ele é sabedor que vai seguir um caminho respeitando por toda a sua vida, o nome que carrega, e os princípios da família que foi iniciado, é como as tradições yorubas compreendem o compromisso assumido no igbodu.

A mudança de família no Brasil.

Vivemos em um país diferente, com anseios e expectativas diferentes das que existem no território yoruba, então é de se aceitar visões diferenciadas dos resultados esperados por alguém iniciado em nosso pais e por alguém iniciado na Nigéria sendo que nasceu e foi criado naquela cultura.

Sendo assim considerando o procedimento que foi adotado comigo, considero o tempo de iniciação que as pessoas foram submetidas em outras famílias assim como os assentamentos que elas receberam para esclarecer isso melhor já que se trata de um tema que na Nigéria não existe vou citar aqui o meu exemplo.

Quando entrei na família Agboola, eu tinha o assentamento do meu ifá, o Exu de ifá e os assentamentos de Osun (antepassado), além de ser iniciado no culto de Egungun e outros orisás.

A orientação do meu Oluwo baseado em uma consulta a ifá foi a seguinte:
Eu deveria ser submetido ao itefa e os ikins do meu ifá deveriam ser mantidos, foram acrescentados aproximadamente cinquenta ikins novos, o Exu, foi feito outro correspondente ao odu do itefa, como é padrão.

Após o itefa baseado no odu foi orientado uma nova cerimonia no culto de Egungun, com o meu babalawo, não uma iniciação, mas sim um ritual, onde o Egungun, de minha casa ganhou roupa, já no caso de Osun (antepassado), foi considerado que eu já era iniciado, e que precisaria Opa Osun, somente no caso de iniciações, já que recebi o assentamento de Osun (antepassado), quando fui iniciado no ifá, como todo iniciado no ifá Cubano.

Também foi orientado por ifá, que eu deveria ser iniciado novamente em Olokun.

Note bem cito o meu exemplo, porque na Nigéria isso não acontece, e no Brasil, isso tudo é bem comum, pessoas mudarem de família, não é errado, acredito que errado seja desrespeitar a suas raízes anteriores, por isso fiquei muito feliz com a orientação de ifá, que manteve os meus ikins, também fiquei feliz com a decisão do meu Oluwo em respeitar o meu tempo de iniciação, sei que pessoas que foram iniciadas na mesma família não receberam o mesmo tratamento, por isso deixo bem claro, o ideal é consultar ifá.

Iyanifa

Nos últimos tempos, ouvi inúmeras denominações para descrever uma mulher que foi submetida ao itefa, nesse caso em nossa família, permanece a designação Iyanifa para as mulheres que vão se dedicar ao culto de ifá e que podem consultar opele e ikin, assim como as mulheres que mesmo tendo feito o itefá, vão continuar sendo iyalorisas ou oloorisas, existem pontos bem definidos em nossa família, vamos analisar a seguir:

A Iyanifa, não vê iya odu, nenhuma mulher vê iya odu, então ela não inicia um babalawo, ou outra iyanifa.

A mulher que depois do itefa segue as orientações do seu odu, e se dedica ao estudo de ifá, não necessita estar vivendo em um período que não menstrua mais, um exemplo disso, é que temos iniciações para iyanifa, no território yoruba, de meninas com sete, oito anos de idades, isso é o que fizemos em nossa família.

Uma mulher pode passar por um itefa e seguir se incorporando com exu, caboclo e orisá, como no caso masculino, essa pessoa vai seguir um caminho diferente do caminho de estudo de dedicação a ifá, essa pessoa vai ser iyalorisa ou oloorisa.

As diferenças são definidas não por uma escolha pessoal, mas sim pelo odu do itefa.

Baseado no odu, mesmo as iyanifas, tem que ser submeterem a algumas cerimonias diferentes daquelas submetidas pelas mulheres que fizeram itefa e vão continuar oloorisas.

A iyanifa, assim como a mulher submetida ao itefa, pode cultuar o seu ifá, a diferença que a iyanifa é preparada para o culto de Orunmila e pode vir a ter permissão para atender com opele e ikin.

Iya apetebi

Iya apetebi é a designação dada à mulher do Babalawo, independente do credo professado por aquela pessoa desde que respeite a fé do marido, isso acontece fora do território Yoruba, no Brasil temos vários exemplos de pessoas que se iniciam em ifá mesmo sendo iniciado em outra cultura religiosa como Umbanda, e candomblé, isso torna a iya apetebi no Brasil, um caso a parte, temos que considerar que ifá é sabedoria e devemos respeitar as pessoas que professam mais de uma religião ao mesmo tempo.

Em regra uma iya apetebi deve ser iniciada em Ifá e Osun, não conheço uma Iya apetebi de fato que não seja iniciada nesses orisás, as Iya apetebis de direito são as mencionadas anteriormente, mulheres que ainda não foram iniciadas em Osun e ifá, mas que são as esposas dos babalawos.

A iya apetebi, que senta na esteira do babalawo, que foi apontada pelo Oluwo, antes da consagração do babalawo seu marido, é aquela mulher que foi iniciada em Osun e Ifá, e que tem a obrigação de cuidar do Ifá do seu babalawo, é a pessoa encarregada dos cuidados desse orisá como o osé, entre outras atribuições.

Essa mulher que recebe o nome de iya apetebi que foi submetida a todas as iniciações, é uma pessoa que ocupa um cargo insubstituível, tanto na Nigéria como no Brasil, um babalawo não pode ter uma segunda iya apetebi, e uma iya apetebi não pode abandonar o seu babalawo, essa situação para as pessoas fora do território yoruba podem causar certa apreensão, mas devemos analisar que a pessoa se submeteu a varias iniciações consentindo e assumindo as responsabilidades diante do orisá que representa a sua fé, isso se aplica tanto a iya apetebi como ao babalawo.

O casamento do babalawo com a iya apetebi, representa mais uma cerimonia diante de ifá, e somente a ifá é dado o verdadeiro titulo de a testemunha do destino, isso implica diretamente que ele tem conhecimento de quem vai casar com quem, cabe a ele autorizar a cerimonia ou não, assim como no itefa, cabe a ele autorizar a cerimonia ou não, quando a iya apetebi carrega o iyangui do Exu do marido ou é representada nesse ato.

Cada situação é um situação e fora do território yoruba algumas pequenas mudanças podem ser aceitas, mas a base deve ser mantida, e o respeito deve ser a base do relacionamento, em vários odus fica claro que um babalawo, não deve ter mais que uma mulher, e também fica claro no ifá que um babalawo deve respeitar a lei do seu pais, o mesmo deve ser um representante da comunidade e um exemplo a ser seguido.

Iya apetebi Iyanifa.

O caso da Iya apetebi Iyanifa, é um caso mais raro, essa mulher iniciada para se dedicar ao culto de ifá que também é mulher de um babalawo, normalmente é uma pessoa com formação permitida pelo seu Oluwo baseada na formação do babalawo seu marido, traduzindo ela não tem um Ojugbona o Ojugbona é normalmente o seu marido, considerando o convívio diário, essa regra torna-se um benefício para essa sacerdotisa que estuda todos os dias no âmbito familiar.

É bem verdade, que essas iniciadas são muito mais exigidas, porém quase sempre são melhor preparadas, que aquelas que vem na casa de ifá uma vez por semana.
  

Um exemplo a ser seguido.

Quando eu digo que um babalawo deve ser um exemplo positivo, falo de pessoas com uma estrutura de atendimento que constantemente inicia outras pessoas, não estou falando de iniciados.

Uma é iniciada para conhecer o seu destino e melhorar a sua forma de ver a vida e os seus semelhantes, se ele fosse perfeito, não precisaria ser iniciado, então é comum que um babalawo, inicie pessoas que ele discorda se ele fosse iniciar só as pessoas que simpatiza não seria um sacerdote.

Proeminência.

Quando perguntei para o meu Oluwo como identificar um babalawo que já esta em ponto de se tornar um Oluwo ele me disse naquele português enrolado, que é característica dele, um babalawo conquista o seu espaço dentro da família, quando participa de rituais e se mostra familiarizado com tais atividades.

A mesma pergunta eu fiz para o Araba quando perguntei como ele foi escolhido para ser o Araba da cidade de Lagos, ele me respondeu proeminência.

Uma pessoa proeminente aparece não porque o seu querer deve ser imposto, ele aparece porque o seu conhecimento se impõe e o reconhecimento acontece naturalmente, porém no caso do Araba foi a única pessoa da família Agboola que foi sabatina antes de ocupar um cargo, algumas pessoas conhecem esse ritual por ikoate, que vamos traduzir aqui para facilitar como uma sabatina feita por seus colegas.

Na família Agboola, não existe esse ritual, na Nigéria, nenhuma pessoa tem coragem de dizer que é um babalawo, sem antes ser reconhecido por sua família, apto e digno dessa função.

Me chama atenção que com exceção do meu Araba, nunca conheci alguém tenha passado por esse ritual, ouço muito falar, mas não conheço famílias yorubas que pratica isso, somente esse ritual é usado na hipótese como citei da escolha de um Araba para uma cidade, o Araba Awodiran respondeu perguntas sobre ifá, durante três dias para um grupo de mais de cem babalawos, que o aprovaram para aquela função, mesmo assim ele teve antes que receber o reconhecimento do rei, para receber o seu oye (cargo).

Rituais.

Sobre rituais, não podemos entrar muito em detalhes, é certo que em nossa família, um pré-iniciado, no ritual de isefa recebe um mínimo de dezoito ikins, e em um itefa o Oluwo escolhe o numero de ikins de acordo com a vontade de ifá.

Também é verdade que um isefa pode ou não ter sacrifícios, pode ou não ter um assentamento de Exu, a realidade é que prevalece a orientação de ifá.

O leigo.

O publico em geral não sabe diferenciar ifá de Orunmila e muito menos, Ela de Agboniregun é obrigação dos babalawos com Iles Ifá, constituído divulgar a informação, mesmo que isso tome o tempo e gere desgaste na figura do sacerdote.

Constantemente pessoas me perguntam sobre ifá, ifá é um oraculo que se baseia em um conjunto de versos, coletados ao longo do tempo, por antigos sacerdotes do culto a Orunmila, dentro desse conjunto existe vários tipos de orientação filosóficas, morais, religiosas etc.

Ela é a emanação da sabedoria de Orunmila, que intui o babalawo e o orienta e o direciona no caminho indicado pelo oraculo de ifá, que foi primeiramente divulgado pelo maior de todos os sacerdotes, primeiro e único Agboniregun.

Convicção.

Tenho plena convicção que vão aparecer pessoas para me criticar sobre esse texto, a minha parcela de contribuição esta sendo dadas, as pessoas que não concordarem fiquem a vontade para escrever um texto que conteste o escrito por mim, estou preparado para responder as perguntas, não porque sou o dono da verdade, é porque dedico minha vida a minha religião.




Um comentário:

  1. Prezado Baba, eu gostei do texto. Estas explicações filosóficas sobre os ritos de passagem são importantes.

    Àse o!

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