quarta-feira, 27 de abril de 2011

Fé ou alienação

Fé ou alienação
Texto:Babalawo Ifagbaiyin Agboola

Hoje diante,de tantos desabafos,que recebo em minhas correspondências, fico me perguntando,ate  onde pode ir nossa fé;o porquê de tantas pessoas que tem abandonado a crença nos orisas, e ido buscar novas crenças;será que a fé tem sido pequena,ou as desilusões grandes demais?

Onde podemos buscar a razão para tudo isso?
Será que é o orisá que esta errando?

Ou será que esse erro está sendo cometido, pelo pouco conhecimento de nossos sacerdotes?

Tantas coisas vêm sendo criadas,outras tantas misturadas,que  a verdadeira essência,a do orisa,esta  cada dia mais longe da sua real origem.

 Vamos tentar enxergar de uma forma simples, se eu pegar uma receita,e ao invés do sal,colocar o açúcar, todo seu sabor será mudado,e a receita original,perderá completamente o sabor, quem errou?

Como que algumas pessoas conseguem cultuar inkices,voduns,orisas,caboclos e tantos outros espíritos juntos?

Já conheci pessoas feitas para Osun tendo como Esu pessoal tranca rua das almas;como isso pode acontecer?

Então, se não tivermos sacerdotes bem preparados e com uma linha de formação bem definida como vamos esperar um resultado satisfatório.

Onde esta sendo depositada toda a fé de uma pessoa?
Para quem ela deve fazer suas orações?

Em qual cultura ela deve se aprofundar e aprender;na cultura do misturando que funciona?

É através de um bom sacerdote que teremos o conhecimento e a formação necessária para entender uma religião.

Com o passar do tempo, os erros vão sendo cometidos,vamos tendo perdas,e com elas os sofrimentos gerados, por tudo isso,seguem aumentando.

 Quem suporta perdas e os sofrimentos que tudo isso gera?

 Tudo na vida está interligado,não vamos esperar milagres,mas vamos buscar sacerdotes melhor preparados,que possam nos orientar,não queremos mágica,queremos coerência.

 Quando temos fé,sentimos que não estamos sozinhos,que uma força existe dentro de nós,mas às vezes não podemos dar um nome a ela, sentimos sua presença, precisamos desenvolver um maior conhecimento,sobre tudo que está acontecendo.

 Sabemos que muitas vezes ela partiu de um determinado orisa,e  as vezes de um assentamento feito por um sacerdote,que  detêm o verdadeiro conhecimento e através dele,nos transmite  a força necessária para o momento ou situação que estamos passando;tudo fica mais fácil.

É quando existe esse conjunto que teremos o resultado necessário,para o problema daquele momento.

 A crença é necessária em todos os momentos, precisamos acreditar,mas também conhecer o que acreditamos,fé sem conhecimento é alienação.

A vaidade e o troféu

A vaidade e o troféu
Texto:Babalawo Ifagbaiyin Agboola

Outro dia estava me lembrando de uma historia que presenciei  há muito tempo...

Uma senhora que hoje é uma iyalorisa conhecida,emprestava algumas de suas roupas para os funcionários de sua casa irem com ela nas festas de religião,na condição que eles dissessem que eram filhos de santo dela.

Essa loucura explica a que ponto uma pessoa pode chegar para demonstrar que tem um grande número de filhos.

Vamos falar de um assunto que  todos conhecem bem, os  filhos troféus,iniciados que  servem de adorno na coroa de sua majestade (a vaidade de ser sacerdote) coisa muito comum nos dias de hoje.

Vocês acham estranha a minha afirmação?

Em um mundo,onde quase tudo é aceitável,onde status e beleza viraram  religião e o número de filhos,é sinônimo de asé,
 acredito que algo  aqui deve ser mudado,porque  eu não concordo que um número grande de filhos é sinal de asé,só não consegui encontrar a palavra certa,para definir isso,não sei se é vaidade ou ignorância.

 Nada mais poderia ser estranho, que colecionar seguidores,e não formar iniciados,isso parece até brincadeira.

Bem amigos, vamos ser sinceros,tudo começa com a iniciação do troféu, primeiramente a roupa da sua saída,deverá ser digna de um rei ou rainha,ou será que o dono da casa vai querer mostrar a simplicidade de um orisá?
Não,ali, é seu momento, e através daquela situação  que ele vai encantar o público.

Fora da realidade,com todo o seu orgulho,divulgará aos olhos da ilusão,a continuação de um ritual,onde  a preocupação é o luxo e a necessidade de apresentar para aquela casa, mais um membro, ou seria apenas mais um número,ou mais um troféu?

Hoje,o que vemos,por ai, não são casas preparadas,preocupadas em colocar os filhos em sintonia com o orixá, mas o iniciado em sintonia com as necessidades da casa,ou a vaidade do sacerdote,
 buscando ali apenas elevar os números de filhos,onde a satisfação não esta no orisa,mais sim na quantidade de pessoas iniciadas ,ou no número de pessoas dançando no barracão.

Essas coisas se tornaram hábito em muitos lugares, graças ao Orisa não virou uma regra,ainda temos sacerdotes honestos.

Em alguns lugares chega ao ponto que isso é tão importante,que ao chegar na casa,é sempre enfatizado a “necessidade de ser iniciado no orisa”, e à medida que o tempo passa, a pessoa que ainda não se submeteu ao ritual,começa a ser vista com um certo desprezo.

 Por que?
 É amigos,precisamos mudar alguns conceitos dentro do culto aos Orisas; Orisa é pé no chão,é simplicidade,não é números, e sim a qualidade e não a quantidade.

É a capacidade de transformar,é a força da fé, é a verdade nua e crua,é a realidade;não aceito mais a ilusão, não vou compactuar com a mentira a mediocridade e a ignorância  que se instalou.

Texto: Iya apetebi Ifakemi Agboola
Revisão: Babalawo Ifagbaiyin Agboola


domingo, 24 de abril de 2011

Ainda existe esperança

Babalawo Oyeniyi Awolola Agboola

Texto:Babalawo Ifagbaiyin Agboola

Todos os dias quando acordo e faço minhas orações, me emociono com a beleza de nossa religião,fico viajando em meus pensamentos,vou a terra de nossos antepassados e me comunico com os Orisas; sinto nesse momento uma alegria muito grande de fazer parte dessa religião,de ter meus Orisas, e de ter o privilégio de conhecer Ifa.O pouco  que conheço,agradeço muito,por ter acesso a uma cultura tão especial,uma religião  maravilhosa.

Muitas vezes fico pensando e me transporto,sonho com o território Yoruba,sonho com a possibilidade de ter um convívio mais estreito com nossa raiz,é um sonho bom,vivo por alguns minutos a alegria de imaginar que um dia vou conseguir aprender um pouquinho mais sobre nossa religião.

Depois de rezar e tomar um cafezinho,estudo um pouco e vou ver minha correspondência,email,Orkut,facebook,blog,
Comunidade,é nesse momento que a realidade toma conta do meu dia a dia,é quando tenho contato com todos aqueles que me escrevem, pedindo ajuda,é quando a verdade começa a me machucar,é quando eu me sinto muito pequeno diante de tantas coisas que não posso e que certamente não vou mudar.

Ontem à noite recebi um email de um filho muito querido que mora no Rio de Janeiro,e ele me disse (sabe pai quando eu escolhi seguir o senhor eu sabia que teria que enfrentar muita gente,sei que seu trabalho desagrada um grupo de pessoas que se beneficiam com a bagunça que está acontecendo em nossa religião) foi nesse momento que percebi,que meu caminho está traçado e que um grande número de pessoas pode não gostar do que eu escrevo,mas que um pequeno grupo de pessoas a partir desse trabalho começaram ver nossa religião de uma forma  mais positiva.

A frase que eu mais leio em minhas correspondências é a seguinte ( eu já tinha desistido,mas encontrei o senhor,li o que o senhor escreveu e resolvi tentar mais uma vez) essa responsabilidade aumenta cada dia mais,e peço ao meu Orisa que me de forças para seguir nessa luta.

Sinto que a caminhada a cada dia tem mais dificuldades,mas não me sinto sozinho.
Sei que assim como eu,existe um grande número de pessoas querendo uma mudança,existe um grande número de pessoas que não suportam mais os desfiles de moda,o luxo e a vaidade de algumas pessoas,que confundiram nossa religião com carnaval ou coisa bem pior.

Existe um grande número de pessoas que já desistiram,mas tem muita gente lutando contra essa loucura que está se transformando nossa religião.

Há algum tempo atrás eu ouvi falar que tem pessoas cobrando um preço absurdo por um assentamento,para onde estamos caminhando com tais delírios?

No que algumas pessoas estão transformando nossa religião!

Preciso ter forças para suportar tudo isso,mas me desculpem meus amigos em alguns momentos eu nem sei como definir tais senhores mercadores de nossa fé.
Por outro lado sei que existe ainda muita gente séria tentando fazer um trabalho digno e é nessas pessoas que eu busco me espelhar.

Esse texto é uma tentativa de esclarecer um pouco mais as pessoas sobre minha forma de pensar,mas também é uma forma de homenagear meu Oluwo Oyeniyi Awolola Agboola 
 ,é  com muito carinho que agradeço sua atenção e seu carinho e sua paciência para comigo.


sexta-feira, 8 de abril de 2011

Entre a cruz e a espada

Entre a cruz e a espada
Texto:Babalawo Ifagbaiyin Agboola

Um sacerdote para desenvolver um trabalho digno,deve obedecer alguns princípios fundamentais como representante das divindades,sendo porta voz do oráculo.

Deve considerar a verdade sua maior aliada no desenvolver de seu trabalho.

A mentira não deve ser vista como o inverso da verdade e sim como a intenção maldosa de enganar e envolver em nome do divino.

No odu Ògúndábèdé Orunmila orienta sobre a necessidade de manter sempre a verdade.
O mentiroso viajou por vinte anos e não foi capaz de retornar.
O mentiroso viajou por mais seis meses e não foi capaz de retornar.
A Honestidade é a melhor diretriz consultou Ifá para Baba Ìmàle,que estava trajado em roupões. Foi dito para ele que ele seria um mentiroso por toda sua vida.
O não conhecimento da filosofia empregada na religião dos Orisas,criou automaticamente uma lacuna que foi ocupada pela criatividade e por vários interesses que somente beneficiam os inescrupulosos os supersticiosos e ignorantes.

A filosofia é o estudo de problemas fundamentais relacionados à existência, ao conhecimento, à verdade, aos valores morais e estéticos.

A teologia é o estudo das manifestações sociais de grupos em relação às divindades.

A ética significa modo de ser, caráter, comportamento é o ramo da filosofia que busca estudar e indicar o melhor modo de viver no cotidiano e na sociedade.
O vasto legado deixado em terras brasileiras pelos escravos trazidos do território yoruba, contribuíram para a formação do conhecimento necessário para alguns rituais,mas o comportamento do oficiante deve ser seguido com base em valores não só teológicos mas também filosóficos,ético,e moral.

A mentira pode surgir por várias razões, receio das conseqüências da verdade e que traga conseqüências negativas.

O medo e a insegurança por falta de conhecimento geram uma grande confusão entre ignorantes vitimas de preconceito e maldosos sedentos de benefícios, colocando assim aqueles que buscam uma orientação muitas vezes entre a cruz e a espada.
Sendo assim a melhor opção para quem busca um atendimento é usar de cautela e prudência ao eleger a pessoa em quem confiar sua fé.



Bibliografia consultada : Oráculo sagrado de Ifa,Afolabi Epega,Neimark ,tradução para português Ósunlékè.
Wikipédia.